terça-feira, janeiro 16, 2007

Sobre o acidente na construção do Metrô em São Paulo

Os senhores vão-me dar licença. Mas hoje vou dizer o que penso a respeito da engenharia nesse País.

E que me perdoem colegas, aos quais a política venal brasileira no auge da ignorância sobre fundamentos da técnica e do Artigo 1º e 2º do seu código ético, desaprezado, os chamam de "técnicos de aluguel"- como já ouvi pronunciado em reunião de partido político na cidade de Campinas, SP (1989). Pois de colegas subservientes a valores do dinheiro, sob encurvada consciencia, separam-nos distâncias infinitas pela postura na engenharia. Aliás, a partir da responsabilidade técnica firmada em favor do inerese público, difuso, entendida como política pública oficial derivada da Lei 5.294/66. Menciono essa Lei, para aqui ficar lembrado o alcande estabelecido e a própria competência da engenharia nacional como instância de decisão - por sua política estabelecida em lei.

Sendo resto, politica pública apliaca ao "vir a ser das coisas". Aliás, mundo circundante, bens e valores - construídos sob método e organização. Pois jamais serviria a Engenharia para sacrificar população em favor de ganhos de capital - ao qual, era de se esperar, não se subordinaria vossa consciência. Hoje, sob mais um dos escombros de vossa má engenharia, subserviente e a causar catastrofe, resta observar e assinalar essa subversão em vossos valores - na esperança de vosso melhor entendimento. Pois à falta dele, e lançados ao vosso repto, até hoje espero respostas aos documentos públicos por mim firmados firmados em última palavra. Pois registros em cartório vos esperam até hoje sob títulos publicados pela imprensa à vossa exaustão. E até hoje esperam vossa resposta.

E a todos vi fugir, quando vos enfrentei pelo debate aberto. E todos os vi submissos, subservientes ao capital e a pisotear princípios e esquecer Normas Técnicas. Portanto alienados da própria força em poder e decisão imperativa vinculada ao código ético.

Hoje nos jornais temos a notícia, finalmente, relativa à engenharia dessa obra posta em questão.
Assim, aqui transcrevo o texto produzido pelo reporter ROGÉRIO PAGNANANDRÉ CARAMANTEDA para o jornal Folha de São Paulo em sua edição de terça-feira, 16 de janeiro de 2007 .

Sob o título "Houve falha na obra, diz vice de Serra", diz a notícia:

Para Alberto Goldman, acidente no metrô em Pinheiros, na última sexta-feira, foi provocado por erros de engenhariaSegundo o vice-governador, chuvas fortes são previsíveis e não podem ser usadas como uma justificativa para um "episódio dramático"



"O vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), secretário estadual de Desenvolvimento, afirmou ontem que o acidente nas obras da linha 4-amarela do metrô, em Pinheiros, foi provocado por falhas de engenharia.Falando como engenheiro formado pela USP (Universidade de São Paulo) e ex-ministro dos Transportes no governo de Itamar Franco (entre 1992 e 1994), Goldman disse que as fortes chuvas não podem ser usadas como justificativas para o "episódio dramático"."Um grande volume de chuvas também é previsível. [...] A engenharia em algum momento falhou, indiscutivelmente. É responsabilidade de um processo de engenharia que foi adotado do começo até o fim. De quem é a responsabilidade -individual, pessoal, ou de empresas-, isso só a investigação que vai dizer", afirmou."Os responsáveis têm de pagar em todos os sentidos. Do ponto de vista moral, do ponto de vista financeiro, do ponto de vista político. Mas, evidentemente, a cidade não deve sofrer com a paralisação de uma obra tão importante. Como disse, há um atraso de 30 anos às obras do Metrô", afirmou Goldman.Em nota divulgada no último sábado, um dia após o desabamento, o Consórcio Via Amarela -responsável pela obra- apontou as "fortes chuvas das últimas semanas" como o principal indício para o acidente na construção da estação Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.Ontem, o consórcio afirmou que a prioridade atual é o resgate das vítimas -outros assuntos, disse o grupo, serão tratados no momento adequado.Ao apontar falhas na obra, Goldman expõe em público um assunto tratado reservadamente pelo governo estadual. Na última sexta-feira, horas depois do acidente, por exemplo, o governador tucano, José Serra, questionou o presidente do Metrô, Luiz Carlos David, se tinha como prever o acidente. "Sim, tinha", ouviu.A conversa era particular, porém foi ouvida pela reportagem da Folha. Mesmo assim, o governador negou que tenha recebido tal resposta do presidente da empresa estatal.Ontem, Serra assumiu uma posição semelhante. Questionado sobre as afirmações de Goldman, o tucano afirmou não ter conversado com o colega sobre o assunto e que não poderia emitir opinião conclusiva antes dos laudos técnicos.O secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, também disse que precisava esperar os laudos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) para falar em causas. "A única coisa que posso dizer, antes dos relatórios do IPT, é que havia uma erosão na obra, desde a última quinta, e não fui informado disso. Eles [consórcio] vão ter que explicar isso."O vice-governador participou ontem da abertura da Couromoda, feira de calçados e artigos de couro realizada no Anhembi. No evento, Serra pediu um minuto de silêncio em homenagem à aposentada Abigail Rossi de Azevedo, a primeira vítima achada nos escombros, na madrugada de ontem".

Breve comentário:

Temos de lamentar profundamente a ocorrencia, é verdade.
O mal, já está feito. Mas, espero, a dimensão da tragédia pode ter o condão de forçar a revisão estrutural exigida pela engenharia para se recolocar no seu devido lugar como parte ativa da humanidade acima de qualquer interesse menor de ordem política ou comercial.

Sem dúvida, a engenharia como atividade técnica tem sua política própria desde as primeiras concepções sobre o vir a ser das coisas e, seu código ético - para torna-las realidade. Evidentemente o bem estar social, a funcionalidade, segurança, economia e estética de suas obras, dispensam subordinações a quaisquer desses interesses.

O desabamento presente, vincula-se à deformação através da qual a engenharia, assim como medicina e outras profissões terminam estruturalmente subordinadas à política venal laica e, a interesses comerciais próprios da valorizada ficção financeira a exaltar o lucro capitalista. Com toda certeza, houve deficiencia no cimbramento da obra, incapaz de resistir à sobrecarga, subdimensionado.
E a engenharia movida pela pressa política e pelo laicismoempresarial decidido a economizar emtudo para maximizar lucros, até nas escoras sob apostas em estatisticas de riscos previsíveis como enxarcamento de macissos terrosos provocados por regimes de chuvas também determináveis, curvou-se ante o poder do dinheiro e de seus representantes, e
mpreiteiros menos responsáveis e, pela irresponsabilidade política instalada na administração pública como ficou demonstrado.




* * * * *

Eis um caso de irresponsabilidade passada
Relato apenas para ilustrar.

Nada estranha tal acontecimento. Pois tal seria previsível na gestão política encimada no próprio Metrô: quando em época passada, como técnico representante do sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (membro da comissão de licitações - 1995) tive de impugnar concorrencia pública lesiva ao erário. E surpreso ao folhear o processo que chegara às mãos para exame, além da inconsistência das justificativas ali constantes, notei, também, a ausência completa de qualquer registro de responsabilidade técnica como exige a Lei.
O laicismo imperava soberano.

E devo até homenagear o representante do Sindicato dos Economistas na Comissão - também representante da comunidade como o fiz, certa vez em plenária do CREA: ao comunicar o fato
e abordar o assunto quando fui conselheiro - tempos depois. Pois esse representante naquele momento (1995) teve a hombridade de reconhecer-se leigo para opinar sobre o mérito da referida licitação.


Pois para quem quiser saber, tratava-se da substituição de 10 disjuntores de 138 KVA numa substação do Metrô. Intentava-se troca-los por outros de igual capacidade e serventia em procedimento absolutamente desnecessário do ponto de vista técnico - senão apenas para atender interesse comercial de fabricantes desses equipamentos desejosos de "vender" o produto fabricado.

Tive de demonstrar que disjuntor nada mais é do que um "fusível" mais sofisticado, destinado a proteger linha ou carga - quando se abre (desarma) e interrompe o fluxo da corrente elétrica. E na hipótese de não abrir (desarmar), o filamento como ponto "mais fraco"
construído de propósito através do qual a corrente ainda continuaria a circular, iria, aí sim, se aquecer intensamente. E em fração de segundos, fundir-se (se queimar) tal como ocorre nos fusíveis comuns. Pois os disjuntores em última análise são como os fusíveis empregado em qualquer residencia. E ninguém troca fuzível que ainda não se quimou. Pois ele foi feito justamente para isso. E substituir disjuntor nas condições acima, teria o mesmo significado de trocar fusível não queimado por outro apenas como gasto inútil. Seria mero desperdício compreendido por qualquer dona de casa por esse simples entendimento em termos de prioridade doméstica. Equivalente a jogar dinheiro fora.

No entanto, no insidioso processo licitatório ao qual me refiro, as justificativas eram meramente laicas e de inconsistência evidente. E ao folhear o pouco volumoso processo, nenhuma responsabilidade técnica era nominalmente assumida por nenhum engenheiro como tal - sob registro no sistema CREA/CONFEA. Apenas, para encobrir o lucrativo negócio, dizia-se que o "mérito" da licitação já havia sido examinado pela "área técnica" - sob pressuposa ignorância difusa sobre o assunto pelo restante da humanidade, tanto quanto o faz, fez ou fazia o presunçoso político venal e irresponsável postado na administração pública em posições de comando.

Abaixo publico manifesto distribuido em reunião do Conselho de Representantes do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Hotel fonte sônia - 22/03/1996)


O último fusível social

Raul Ferreira Bártholo
Acumulando na própria experiência os males da miséria e violência,
tal como tanto padece a sociedade brasileira, fui assaltado e seqüestrado
há tempos passados.
Em aspecto menor, mas significativo em extensão, pela sexta vez
sou derrubado nas ruas pelos pequenos assaltantes, fabricados pelo mais íntimo
e sistemico descompromisso ao qual nos entregamos nas ações de todo dia,
as vezes até sem perceber.
Entre outras vicissitudes, soma-se agora minha mão direita (punho inutilizado).
Invalidez parcial, quiçá permanente, indireta mas também resultante dessa causa primária. Evidentemente trata-se de violência avassaladora, desta vez a atingir interior de fábrica, onde "acidente de trabalho" claramente liga-se à essa origem primeira.
Quando por sua vez, as empresas respondem com violência ainda maior,
traduzida em ferozes e atacantes cães de guarda.
Certamente, para proteger-se da horda assaltante, produzida pelo mesmo sistema.
O Estado, diz-se sempre carente de recursos
para aplicar em atendimento às mais prementes prioridades sociais.
Comprova-se o resultado nas ruas, reflexamente estendido
agora aos próprios locais de trabalho, a vidros fechados nos carros e grades nas janelas.
Após assaltado, e quase morto, disse-me o Sr. Presidente da República,
Prof. Fernando Henrique Cardoso em telegrama pessoal,
que minhas preocupações estariam sendo examinadas pelos "órgãos competentes
do Governo", assim escrito com todas as letras. E sempre será de se crer nessa palavra, até mesmo pela imediata e mais recente resposta, após relatar-lhe outra situação altamente preocupante. Desta vez relativa a desperdício de precioso recurso público, caracterizado pela exemplar sem razão de uma licitação no Metrô de São Paulo.
Nesse sentido, honrem-se a todos os envolvidos a partir do próprio presidente
da Cia. do Metrô, por seu correto procedimento,
passando pelo Governador Mário Covas.
Após relatado o fato, três dias depois Sua Excelência o senhor Presidente da República
e, talvez pela primeira vez na história, telegrafa a um sindicato para "dar satisfação",
em conhecimento da providência por ele determinada.
Honrou finalmente o próprio Sindicato dos Engenheiros
pela atuação de seu representante na Comissão de Licitações,
remetendo a firme consideração de seu parecer ao exame do Ministério da Justiça
para providências cabíveis.
Assim, descortinado está o panorama por onde substancial parcela de recursos esvaem-se dos cofres públicos em favor de outros interesses, drenados pela mistificação e submissão da técnica, substituída por acatamento à decisão leiga conforme demonstra esse pequeno exemplo, se estendido em prejuízos a todo Brasil em hábitos e costumes.
E geme o Brasil em sacrifícios inúteis, os quais em situação de extremo e desesperador limite, recentemente levaram meus companheiros da CETESB à greve.
E a mim, em particular, à de fome, pela recusa de como técnico consciente
mais ainda humilhar-me a pedir esmola. Eis que nada mais faltava,
ante a mais extrema e inconciliável das necessidades frente às causas expostas:
Mais uma vez vitimado por essa violência. Gravemente ferido no trabalho,
sem recursos para medicamentos inadiáveis além do próprio alimento,
via o Estado "queimar" dinheiro para inutilmente trocar fusíveis
antes dos mesmos queimarem-se por leigos caprichos, em custo máximo e nulo benefício,
gastando o que representaria simplesmente 30 anos de salário atrasado!
Involuntariamente, torno-me exemplo de como tantos outros brasileiros padecem
pelos males da técnica tornada subserviente, omissa e desvalorizada.
Qual técnico, em plena consciência do trabalho ético no serviço público,
portanto vinculado ao progresso e bem estar da coletividade
subscreveria seu nome em alguma "Anotação de Responsabilidade Técnica",
a ter um dia de justificar-se perante seus colegas no CREA,
que o erário deveria dispender esses recursos públicos
tão preciosos para todas as outras prioridades sociais, para apenas substituir fusível
em algum lugar, se o mesmo ainda não cumpriu sua missão de queimar-se?
Qual técnico subscreveria tão discrepante "non sense" para convencer
qualquer dona de casa a trocar fusível ainda não queimado, por antieconomia, recomendando faze-lo antes de qualquer outra despesa em item de maior prioridade?
E antes de substituir outra coisa no interior de qualquer residência ?
Não é o fusível afinal a ultima das prioridades a trocar-se em qualquer sistema
por mais sofisticado que seja, exatamente para cumprir essa finalidade
de um dia inutilizar-se e, aí sim ser trocado ?
Eis companheiros a quanto permite a simples e estrutural omissão de uma ART,
do ponto de vista da primeira medida objetiva para coibir esse avanço leigo.
Vê-se:
O laicismo toma conta da administração. Substitui o técnico consciente,
o qual jamais assinaria tal disparate, para com justificativas falaciosas
apenas cabíveis nessa imaginação laica, expor justificativas
apenas aceitáveis nesse nível de assessoramento.
E no exemplo em questão, o Metrô de São Paulo
toma dinheiro ao Cofre Público para substituir "fusível" não queimado,
enquanto o próprio Estado por força dessas circunstancias, aumenta a miséria e violência:
Desestrutura-se a si próprio para atender premências em demanda social,
desmonta seu mais precioso acervo tecnológico, apenas para "fazer caixa",
demite funcionários antigos mais experientes, atrasa pagamentos.
E onde está o Sindicato dos Engenheiros, o CREA e a Ética da engenharia?
Meditemos, companheiros! Queimou-se, não o fusível do Metro.
Queimou-se sim, o fusível da sociedade, a qual não resiste mais à sobrecarga da técnica omissa a compactuar com o depauperamento dos recursos públicos
e permitir o acréscimo de tensão social.
Assim sendo, convido os companheiros presentes a subscreverem relatório
a Sr. Governador do Estado, a quem em homenagem entregaremos cópia
de parecer técnico a ser encaminhado ao Ministério da Justiça,
anexo às propostas de soluções para o governo dispor de mais recursos
a partir da utilização de "mais engenharia", tomando a mesma o devido lugar
na administração pública, em favor do bem comum, como nos compete.
E compete ao sindicato por as coisas no devido lugar, como o faremos doravante,
tenho certeza. Considerando que disjuntor afinal nada mais é do que um fusível
mais sofisticado, apenas capaz de "desarmar" antes de "queimar-se",
como o faria em última instância como se fusível fora, vê-se:
A ação leiga na administração queimou na verdade o último fusível da segurança social.
Com a palavra, a engenharia nacional.
É preciso chamar o engenheiro de volta para repor as coisas no lugar.
Em favor do Brasil. E de todos brasileiros.
Por nossos filhos, por nossos netos
e todos os pósteros.
Hotel Fonte Sonia, Valinhos, SP. - 22.03..96
A todos companheiros e colegas de profissão.
(Encontro do Conselho de Representantes do SEESP)
Anexos:
1 - Parecer relativo à concorrência para troca de 10 "disjuntores" de 138 kv no Metro
2 - Telegramas da Presidência da República.